"Amo ver-te dormir"

 

Sou tua desde o momento que te vi pela primeira vez. Não é possível que essa tenha sido realmente a primeira vez, mas ainda assim foi a primeira vez que te vi, verdadeiramente. E tu viste-me a mim, e eu nem soube. A vida é uma paródia surreal, não concordas? Estavas ocupado com as tuas sombras e certezas e eu estava ocupada a fugir-te enquanto tu fugazmente me devoravas sem um toque. Nunca tinha conhecido a verdadeira sensação de estar perdida até te conhecer. Nunca tinha conhecido a verdadeira sensação de estar completa e ao mesmo tempo vazia até te conhecer. Raios partam. Podias ter sido mais normal, mas a normalidade é uma palavra que não vem no teu dicionário e, desde que te conheci, nem no meu, mas é por isso que te amo. Amo-te, com todas as tuas sombras e recantos escondidos que guardas dentro de ti. Senti a minha pele aquecida pela tua contra a parede fria e rugosa, a chuva forte apenas a uma parede de distância, a tua mão a tapar-me a boca e a tua voz baixa, firme, sedutora e mandona junto ao meu pescoço: "caladinha, meu amor!", um choque eléctrico passou por todo o meu corpo e rendi-me de corpo e alma a ti, se não o estava já.

Não sei o que gosto mais: se o durante se o depois do orgasmo,  mas sei que adoro o orgasmo, esse filho da puta bem intencionado. É nele que te encontro sempre que te procuro ou sempre que me procuras, é nele que nos encontramos e é nele que nos voltamos a conhecer, como se fosse a primeira vez, tu e eu. É nele que nos zangamos um com o outro com uma fúria sem igual, e que nos amamos com um amor inebriante, sem igual. É nele que nada é igual e que tudo é sem igual. Conheces o ditado que de boas intenções está o inferno cheio? Se o orgasmo for no inferno então é nele que quero viver, sempre, mas só contigo porque só contigo é que ele existe. Faz-te sentido falar-te assim?
Não sei o que gosto mais: se o durante se o depois do orgasmo. É no durante que sinto as tuas mãos percorrerem o meu corpo firmemente, procuras tanto em mim como eu em ti, isso, meu amor, é certo. E é  a essa procura desenfreada que tudo se resume, ou pensavas que não? O epicentro do prazer está em encontrar-me e depois em encontrar-te a ti, ou pelo menos em procurar-te. Não sei se gosto mais do durante ou o depois de o orgasmo contigo, meu amor. É no depois que te encontro, com certeza, nos nossos corpos resgatados do prazer e nas nossas respirações leves e pesadas e cansadas por tanto procurar. Que me dizes, procuramos de novo?